Dados do MEC revelam baixo indicador de conhecimento em Língua Portuguesa e Matemática aos alunos do nono ano do fundamental
Quando se pensa em educação básica remete-se ao zelo pelos ensinos infantil, fundamental e médio, como está estampado nas diretrizes do MEC (Ministério da Educação). No entanto, números divulgados pelo próprio órgão ontem, por meio do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), mostram que talvez esse cuidado não esteja tão concreto assim, pelo menos não em alguns pontos. Em 49 cidades da região, mais de 50% dos alunos matriculados no nono ano estão elencados no nível de proficiência “insuficiente”, o mais baixo de todos, no que diz respeito ao aprendizado da Língua Portuguesa. Em Matemática, a situação é quase que um espelho, já que o cenário atinge 48 municípios. Esses são números do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), em relação ao ano letivo de 2017.
De forma mais detalhada, o sistema avalia a qualidade da educação básica, composto por testes cognitivos e questionários contextuais de Língua Portuguesa e Matemática, destinado aos alunos do quinto e nono ano do ensino fundamental, e terceiro ano do ensino médio, isto é, finais de ciclos. Mas pela primeira vez, a autarquia federal do MEC classificou os níveis de proficiência. Organizados de 0 a 9, de 0 a 3 são considerados com competência “insuficiente”, 4 a 6 são os alunos com conhecimento básico, e 7 a 9 seria o adequado.
Mas o estudo mostrou que a região está longe do nível máximo. Aliás, há casos mais extremos, por exemplo, quando se avalia o nono ano do ensino médio. Nas 53 cidades que compõem a 10ª RA (Região Administrativa do Estado), quando o assunto é Matemática, nem sequer um aluno está no nível adequado em 14 municípios. O caso é pior na matéria de Língua Portuguesa, quando o cenário atinge 19 municípios.
Altos e baixos
E numa análise geral, o ponto mais alto da região está no município de Sandovalina, quando o índice adequado acomete 7% dos alunos do nono ano, na matéria de Língua Portuguesa. É a melhor performance da 10ª RA. O que chega a ser contraditório, uma vez que essa mesma cidade é a terceira que mais possui alunos no nível insuficiente. Trata-se de um contingente de 52,38% dos estudantes, também levando em conta a Língua Portuguesa, mas no quinto ano.
Nesse caso a competência é do município, e como justificativa, a secretária municipal de Educação de Sandovalina, Maria Alves de Almeida Frias, declara que a situação trata-se de um reflexo da gestão, uma vez que a cidade enfrentou do ano passado para cá “muitas mudanças políticas, e isso acaba afetando”. No entanto, ela diz que a municipalidade tem ciência disso, que é uma preocupação “grande e era algo esperado”, mas que se prepara a fim de melhorar os índices.
O município em questão perde apenas para Flora Rica, segunda pior performance, e Ribeirão do Índios, que lidera o ranking de cabeça para baixo, ao mostrar que 57,69% dos estudantes do quinto ano estão com a proficiência “insuficiente” em Língua Portuguesa. Sobre isso, o chefe da administração municipal José Amauri Lenzoni (PSDB) diz que reconhece o cenário e que tem feito uma reformulação do ensino, mas não é um resultado rápido. “Por mais que você invista, a sistemática tem que mudar”, destaca.
Dentre as medidas, o prefeito cita um trabalho mais intenso com os professores, de forma
“a incentivar mais os profissionais”.
Questionado se a situação também pode ser um reflexo da falta de investimentos na Educação, ele responde que não, “pois isso tem sido feito”.
Ainda em âmbito municipal, em Matemática, a cidade de Paulicéia teve o pior índice para o quinto ano, com 38,55% dos alunos em nível de 0 a 3. Entretanto, o Executivo não atendeu as ligações da reportagem para falar sobre o caso.
Escolas estaduais
É de praxe que escolas estaduais sejam de domínio do Estado, e sendo assim, o nono ano pertence ao ensino fundamental ministrado por instituições de ensino estaduais. Contudo, em relação às 49 escolas apontadas no início da reportagem para a Língua Portuguesa, e 48 para Matemática, em oito delas a Secretaria Estadual de Educação garante que não possui unidade a seu subsídio, “o que também pode ser comprovado na própria pesquisa, que apenas inclui dados municipais para: Álvares Machado, Emilianópolis, Flora Rica, Narandiba, Ouro Verde, Presidente Bernardes, Sandovalina e Tarabai”.
Mas de modo geral, a pasta entende que os resultados do Saeb 2017 evidenciam a necessidade de melhorias tanto no ensino fundamental quanto no médio. Em contrapartida, destaca “o esforço dos profissionais da rede estadual, porém ações como a valorização do professor e o investimento em tecnologia, com lousas digitais, são fundamentais para avanços na qualidade do ensino”.
Como promessa, a partir do próximo ano o Estado assume o compromisso de permitir aos discentes da 2ª e 3ª séries do ensino médio complementar a formação com cursos técnicos a distância por meio do Centro Paula Souza. “Em agosto, o governo estadual enviou um projeto de lei à Assembleia autorizando um novo concurso para contratação de 15 mil PEB II [professor de ensino básico]. Um reajuste já foi dado este ano e um aumento de 10,15% está em negociação. Além disso, a prova de valorização pelo mérito será retomada depois de dois anos de hiato”, pondera.