Nunca antes nesse planeta …

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Há tempos iniciei uma crônica com o seguinte pensamento “As pessoas querem ser diferentes e se destacar na multidão, mas todos também querem estar no meio de seus iguais”, dizendo ser este um provérbio chinês.

A confissão que agora faço – mais uma, dirão os estressados leitores, cansados que estão das minhas confissões, omissões e invenções – é a de que nunca li esse texto em lugar algum, nem em português e menos ainda em chinês (idioma que só não domino melhor em razão da falta de prática), embora tenha certeza absoluta de que algum chinês, ou chinesa, já o formulou. Ou os leitores acreditam que num país como a China, que tem aproximadamente um bilhão e quatrocentos milhões de habitantes e milênios de história e cultura, alguém já não teve aquele pensamento?

Infelizmente, sequer é necessário percorrer esse raciocínio para que os que me lêem percebam que se eu dependesse de ter idéias originais para viver, ou escrever, já teria morrido há muito tempo.

Por outro lado, acredito que a carência de idéias não é privilégio meu e de alguns que me são próximos. Creio, aliás, que inclusive os nobres leitores, todos muito distintos e probos, não sejam assim tão únicos e infalíveis como imaginam ser e, portanto, podem ir tirando esse sorrisinho de superioridade da cara.

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O planeta hoje abriga, e muito mal, cerca de sete bilhões de pessoas. Com toda essa gente por aí, será que é possível sermos “originais”? Para ser ter uma idéia do quanto é difícil ser original, Fernando Pessoa, considerado pela crítica literária o maior poeta da língua portuguesa de todos os tempos, tinha 127 heterônimos (pai dos burros existe para isso!! não reclamem!), o que basta para se ter uma idéia de sua enorme inventividade e capacidade intelectual. Pois foi editado um livro que afirma que, apesar da enorme habilidade do poeta português, ele extraia seus personagens, ou grande parte deles, do próprio cotidiano, não mudando sequer os nomes.

Por tudo isso, quando aquele cara que se acha a última bolacha do pacote disser “Ah … mas essa idéia quem teve fui eu” ou “Eu fiz isso primeiro que todo mundo”, não se chateie. A vingança é dizer a ele que, muito antes dele, um monte de chinês também já tinha feito.

José Carlos Botelho Tedesco (Alemão Tedesco) é advogado, pai do Luigi, namorado da Juliana, filho do seu Tedesco e da professora Maria Antonia

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