A tecnologia não volta atrás, mas o pensamento humano, ao que tudo indica, pode, sim, retroceder.
Embora hoje muitas crianças já não tenham idéia do que era um telefone (conhecem, e bem, o celular), tomemos como exemplo aquele antigo, igual ao que meus avôs tinham na casa deles.
Pois bem, o telefone que lá havia tinha uma manivela acoplada à “caixa” do aparelho que, por sua vez, ficava pendurada na parede, e tinha uma pilha enorme, de pelo menos meio quilo, para poder funcionar. E funcionava, quando funcionava, mais ou menos assim: minha avó tirava o fone do gancho, girava a manivela, falava no bocal – que também ficava no “corpo” do aparelho – o número do telefone para o qual queria ligar e depois, para ouvir a resposta da telefonista e conversar com quem atendesse do outro lado, colocava o fone no ouvido.
Como fazer a mesma coisa hoje? Basta um comando de voz e o celular liga direto para a Xuxa, inclusive com a imagem dela dançando “Ilarie” na tela. Assim, a não ser por modismos ou, dito de outra maneira, para fazer graça, ninguém em sã consciência pensa em jogar fora a tecnologia e começar tudo do zero. Ou pensa? Trocaríamos o trem bala japonês pela barulhenta e ecologicamente incorreta Maria fumaça? A geladeira pelo varal de carne coberta de sal? Apesar do saudosismo, creio que não.
Assim, se é verdade que a humanidade, no que diz respeito à tecnologia, não vai jogar seu conhecimento fora, o mesmo não acontece com o pensamento humano que, ciclicamente, regride aos tempos dos homens das cavernas, quando se abominava o que não se conseguia entender e a única questão fundamental era a sobrevivência que, por sinal, se dava através da aniquilação do diferente, dos povos das outras tribos.
A meu ver, uma dessas involuções do pensamento humano pode ser observada com o crescimento do movimento contrário à utilização de vacinas, que vem ganhando adeptos rapidamente.
A disseminação dessas idéias se dá principalmente por meio das mídias sociais, em especial o Facebook. Nesse espaço virtual já repleto de especulações, pessoas que se negam a tomar vacina, e o pior, se negam a vacinar seus filhos, afirmam, sem qualquer comprovação científica, que vacinas têm efeitos colaterais gravíssimos, inclusive relacionando-as à ocorrência de autismo.
Pois é assim que o medo e a ignorância, depois de mais de meio século de vacinações em massa e que tiveram o condão de prevenir várias doenças e diminuir a incidência de outras tantas, podem jogar todo um trabalho árduo de saúde pública no lixo. Durma-se com um barulho desses.
José Carlos Botelho Tedesco (Alemão Tedesco) é advogado e mora na cidade de Presidente Epitácio/SP
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